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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Esta fecha cerco a radicais


Estado fecha cerco a radicais após a morte de cinegrafista

Tragédia é o estopim para discussões sobre como conter violência em manifestações de rua

FRANCISCO EDSON ALVES , GABRIEL SABÓIA , JOÃO ANTONIO BARROS , MARIA INEZ MAGALHÃES E MARIA LUISA BARROS
Rio - A morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, de 49 anos, após inúmeros episódios violentos em manifestações no Rio, causou comoção em todo o Brasil e reação de autoridades policiais e políticas contra grupos radicais. O aperto do cerco a vândalos e criminosos nos protestos foi o assunto do dia. O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que vai encaminhar à Comissão de Segurança do Senado um projeto de lei para tentar organizar as manifestações de rua no país.

Disque-Denúncia divulgou cartaz sobre o suspeito foragido. Para a polícia, é ele quem aparece em imagens usando calça jeans e camisa cinza suada
Foto:  Divulgação

“A sociedade tem que escolher qual é o nível de tolerância que ela quer aceitar. Porque nós (a polícia), que estamos na ponta, sofremos muito com isso. A legislação quer uma tipificação, e tipificação de uma pessoa com rosto coberto como é que se faz?”, afirmou Beltrame, em entrevista à ‘Rádio CBN’, dizendo que o desafio é buscar mecanismos que evitem as máscaras nas passeatas. 
“Uma pessoa que vai mascarada não vai para protestar”, justificou Beltrame, dizendo que tem gente deixando de ir às manifestações porque sabe que haverá ‘atos de banditismo’. O assunto também preocupa a cúpula da Polícia Civil. Tanto que as manifestações também foram o assunto principal ontem da reunião do novo chefe de Polícia Civil, delegado Fernando Veloso — empossado semana passada — com delegados da capital. Ele determinou que os titulares de unidades localizadas em áreas de protestos e seu efetivo deverão estar de prontidão em dia de atos nas ruas.
Já o deputado estadual Carlos Minc (PT) protocolou na Alerj ontem um projeto de lei que proíbe a venda no estado de explosivos, principalmente aqueles com ‘potencial de produzir danos substanciais à saúde e à vida’. O texto prevê multa acrescida de R$ 20 mil ao estabelecimento que descumprir a determinação, caso a lei seja sancionada.“Vou pedir urgência na tramitação do projeto. A expectativa é que seja votado antes do Carnaval. Hoje em dia, qualquer pessoa entra numa loja do ramo e sai com dez rojões”, ressaltou Minc.
Com medo de o governo passar uma imagem de insegurança no país, no ano da Copa do Mundo, senadores afirmaram ontem que não há crime de terrorismo no Brasil, contradizendo defesas anteriores que classificavam as ações de black blocs como atos terroristas. Os líderes partidários se reuniram na tarde de ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e decidiram votar, em duas semanas, o projeto de lei 499/2013, que define o crime de terrorismo.

Santiago e a filha Vanessa no dia do casamento: ‘Sei que ele está bem. Eu sou a continuação da vida dele’
Foto:  Álbum de família

Órgãos transplantados 
O fígado e os rins de Santiago Andrade já foram transplantados. As córneas ainda serão doadas. O velório será realizado amanhã, no Memorial do Carmo, no Caju. Depois, o corpo será cremado.
Filha da vítima, Vanessa Andrade comentou sobre a perda ao programa ‘Encontro com Fátima Bernardes’, da Rede Globo: “A gente nem sabe ao certo onde começa a doer, pois dói em todos os lugares. Não caiu a ficha.” 
O prefeito Eduardo Paes também falou sobre o caso. “Santiago foi morto por ‘filhinhos de papai mimados’. Devem ficar presos”.
Especialista alerta sobre 'mini-homens bomba'
Domingo, O DIA mostrou a fragilidade das leis federal e estadual que tratam da comercialização de fogos de artifício e a facilidade que qualquer um encontra para comprar artefatos. Embora o Exército seja o responsável pela fiscalização da venda dos produtos, quase nenhuma loja do ramo exige comprovante de licença da instituição para a compra de fogos das classes C e D — esta última, a do rojão que matou Santiago. 
Especialista em desmonte de explosivos, o capitão de fragata da Reserva da Marinha Teotônio Toscano diz que, em dias de manifestações, ‘as pessoas não têm noção’ de quantos ‘mini-homens-bomba’ andam em trens, metrô e ônibus, com artefatos perigosos que são manipulados. 
“Um rojão como o que matou o cinegrafista, sem a ponta e a cauda que lhe dão direção, manipulado com pregos, torna-se uma granada de mão, que pode fazer estragos consideráveis num raio de sete metros quadrados. Imagina alguém com cinco desse tipo numa mochila? Um incidente poderia ter consequências inimagináveis num veículo lotado”, alerta. E aconselha: “Viu alguém suspeito com roupas pesadas, apesar do calor, em grupos, ou mascarados, saia de perto e acione a polícia.” 
O advogado Nelmon Silva Jr., conselheiro da Associação Industrial e Comercial de Fogos do Paraná (PR), diz que a saída não é proibir a venda de fogos. “A legislação deve obrigar os vendedores a terem um cadastro junto ao Exército, que ajude a identificar quem usa de maneira incorreta fogos de artifício”, opinou. A reunião em que o novo chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso, tratou das manifestações aconteceu no mesmo dia em que ele fez mais de 50 mudanças nas titularidades das delegacias do estado.
Procurado trabalha como auxiliar de serviços gerais no Rocha Faria 
Durante todo o dia de ontem, a polícia procurou em várias regiões do estado Caio Silva de Souza, 23 anos. Um mandado de prisão temporária foi expedido na noite de segunda-feira, com o objetivo de ‘garantir a ordem pública e da futura aplicação da Lei Penal.’ Caio não foi encontrado em Nilópolis, onde mora, nem no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, onde trabalha como auxiliar de serviços gerais para uma empresa terceirizada. 

Fábio Raposo, que passou rojão a suspeito de ferir cinegrafista, chega à 17ª DP, de São Cristóvão. Ele foi indiciado por tentativa de homicídio
Foto:  Carlos Moraes / Agência O Dia

Segundo a polícia, ele e Fábio Raposo — que nas imagens de TV aparece passando o rojão para Caio e já está preso — responderão por homicídio doloso (quando há intenção de matar) qualificado, crime de explosão e uso de artefato explosivo. As penas podem chegar a 35 anos de prisão. 
Caio já tinha quatro passagens pela polícia. Em 2010, foi levado duas vezes a delegacias por suspeita de porte de drogas na 53ª DP (Mesquita) e 56ª DP (Comendador Soares), mas ele não foi indiciado. As outras duas ocorreram em manifestações por agressões, uma delas como vítima.
À tarde, a ativista Elisa Quadros Sanzi, a Sininho, prestou depoimento na 17ª DP (São Cristóvão). Negou conhecer Caio e disse que nunca o viu em protestos.

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